As medidas que constavam nesse documento foram apelidadas de “Doutrina Bush”, devido ao nome do então Presidente americano George Walker Bush, e alteraram os padrões da política externa que baseava-se na contenção ou tentativa de dissuadir os adversários durante a Guerra Fria e todo século XX. No documento consta a seguinte frase “não hesitaremos (os Estados Unidos) em agir sozinhos, se preciso for, para fazer uso do direito de autodefesa, de maneira preventiva e antecipada”. Baseados nisso os americanos justificaram suas ações contra países considerados ameaça por abrigarem ou apoiarem grupos terroristas. A invasão ao Iraque em 2003 é um exemplo claro de adoção dessa política.
A Doutrina Bush pressupunha ainda a aliança, ou o fortalecimento de alianças já existentes com outros Estados para estabelecer tratados de não-proliferação de armas nucleares, além de enfatizar que os Estados Unidos não permitiriam a ascensão de qualquer outra potência que rivalizasse com o seu poderio militar. Outro objetivo da doutrina era fazer oposição a qualquer tipo de modelo econômico baseado na intervenção estatal e investir no livre comércio e livre mercado, considerados as prioridades da estratégia de segurança nacional.
Com base nesse imenso poder de fogo, a Doutrina Bush não se limita a formar uma resposta ao terrorismo e aos regimes chamados de “fora-da-lei”, como o do Iraque de Saddam Hussein (antes da invasão) ou da ditadura comunista da Coréia do Norte. Seu objetivo é perpetuar uma posição dominante que só encontra paralelo nos grandes impérios do passado, como o persa e o romano. Os EUA se propõem, abertamente, a impedir o surgimento de qualquer outra potência capaz de desafiar sua liderança. O sistema internacional de tratados, normas e organizações multilaterais perde importância, subordinado aos interesses norte-americanos – por meio da força se necessário. A palavra de ordem é agir preventivamente contra qualquer inimigo em potencial, mesmo na inexistência de agressão prévia.
MUDANÇA NO TOM DO DISCURSO
Há limites para aplicação do poder norte-americano. No mundo de hoje, as relações internacionais não são regidas apenas pela força militar. O tom do discurso muda quando estão em jogo interesses econômicos. Nesse campo os EUA compartilham o tabuleiro com dois competidores fortes: a União Européia e o Japão. Em fóruns como o da Organização Mundial do Comércio (OMC), os representantes de Washington são obrigados a negociar de igual para igual com os japoneses e europeus. No terreno diplomático, o fracasso em conseguir o aval da ONU à invasão do Iraque mostra que nem a maior superpotência do planeta consegue sempre a concordância de todos. Aliados tradicionais, como a França e a Alemanha, resistem a ser tratados como subordinados. O antiamericanismo expresso nas grandes passeatas contra a guerra e no boicote aos produtos made in USA mostra discordância de parte da opinião pública. Fora dos próprios EUA, é muito difícil encontrar quem se sinta realmente confortável com a idéia do mundo dominado por um só país.
Após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 o governo norte-americano aumentou os investimentos em defesa. Com o intuito de acabar com os ataques terroristas foi divulgado, em 2002, um documento intitulado “A Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos”, com determinaçõeHumilhado no próprio território, o governo Bush proclamou o objetivo de reordenar o mundo para torná-lo mais seguro – do ponto de vista de Washington, claro. A Doutrina Bush, como ficaria conhecida a nova orientação estratégica, foi anunciada em setembro de 2002, um ano após os atentados ao World Trade Center e ao Pentágono. De acordo com essa visão, o mundo está entrando numa nova era, cujo fator indeterminado é a esmagadora supremacia militar norte-americana. O orçamento anual de 400 bilhões de dólares, para gastos militares, aprovado em maio de 2003 pelo Senado norte-americano, é o maior entre todos os países do mundo. O país conta com uma superioridade esmagadora em armas nucleares, o domínio absoluto dos céus, a única marinha capaz de cobrir todos os oceanos e uma capacidade única de intervir em qualquer parte do mundo, de modo fulminante.
Também faz parte da Doutrina Bush uma nova postura em relação às armas nucleares. Desde o inicio da Guerra Fria, a bomba atômica era encarada como um recurso externo para defender o país ou algum aliado contra outra potencia nuclear. Agora o governo norte-americano se diz no direito de usá-la em qualquer conflito, mesmo contra nações proibidas de possuir esse tipo de arma por força do Tratado de Não Proliferação Nuclear, do qual o Brasil é um dos signatários (país membro).s que deveriam ser seguidas nas áreas político-militar e econômica do país.
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