terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Guerra Irã - Iraque



O conflito conhecido como Guerra Irã-Iraque ocorreu entre os anos de 1980 e 1988. Sob uma perspectiva histórica, as rivalidades que culminaram na Guerra Irã-Iraque estão atreladas a uma das etapas do antigo conflito árabe-persa pelo controle das terras férteis da Planície da Mesopotâmia. Os dois países, que possuem fronteiras em comum, estão localizados na região da Mesopotâmia, palco de inúmeras disputas territoriais desde a Antiguidade, tendo sido povoada por civilizações como os assírios, babilônios, persas e árabes. O maior elemento dessas disputas é de ordem natural: a configuração do relevo, em áreas planas e com a presença de solos férteis, o que favorece a prática agrícola e também por conta da sua rede hidrográfica formada por grandes rios perenes, a se destacar os rios Tigre e Eufrates, algo raro em uma área onde predomina os climas árido e semi-árido.
Pouco antes do início do conflito, no ano de 1979, o Irã atravessou uma enorme transformação política conhecida como Revolução Islâmica, quando organizações religiosas associadas a partidos esquerdistas contaram com o apoio popular para derrubar o regime pró-Ocidente do xá (título oferecido aos monarcas persas) Reza Pahlevi, instaurando um Estado teocrático islâmico e de oposição à presença política dos países ocidentais e de Israel. A maioria da população iraniana e o regime inaugurado pelo Aiatolá Khomeini tinham orientação religiosa xiita, divisão do islã que abrange cerca de 10% da população islâmica do mundo, mas que são maioria no Irã, Iraque e Barein.
Já o Iraque, ainda no final da década de 1960, criou um governo de cunho nacionalista através do partido Baath e que teve na figura de Saddam Takriti Hussein um dos seus principais representantes. Saddam foi o vice-presidente do país de 1968 até 1979, quando finalmente assumiu a presidência do país. Apesar de laico, o regime de Saddam Hussein, que pertencia à seita sunita, impôs restrições à maioria da população, composta por xiitas, que sofreu com repressão, confisco de terras e limitações para a prática religiosa. Os curdos, outra etnia que existe na região, também tiveram de submeter a diversas retaliações.
Naquele momento, tanto o Iraque quanto o Irã detinham sociedades que contavam com os ganhos de uma década de crescimento econômico pautado na produção de petróleo, além de grande poder militar, apresentando enorme potencial para o crescimento econômico e social. O presidente iraquiano Saddam Hussein, mesmo tendo realizado progressos significativos no desenvolvimento de um Estado iraquiano, acreditava que a nova liderança do Irã revolucionário xiita ameaçava o equilíbrio do Iraque e seu governo sunita, explorando as vulnerabilidades geoestratégicas do Iraque, como por exemplo suas limitações de acesso mínimo ao Golfo Pérsico.
Voltando ao ponto de vista da evolução das territorialidades presentes na região, a postura de Saddam Hussein em invadir o Irã teve um precedente histórico: os governantes da Mesopotâmia, temendo conflitos internos e as invasões de povos estrangeiros se envolveram diversas vezes em batalhas frequentes com os povos das chamadas ‘terras altas’, uma referência ao entorno montanhoso e planáltico da área correspondente à Planície da Mesopotâmia.
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

Nenhum comentário:

Postar um comentário