Crescimento Econômico da China e o Desafio da Sustentabilidade
Ao final de 2012, o líder chinês Hu Jintao deu lugar a Xi Jinping, o mais novo governante da China, o que iniciou mais uma etapa do desenvolvimento da economia chinesa, que apesar do cenário de crise econômica internacional, ainda mantém um crescimento econômico notável, fundamentado nos investimentos internos em infraestrutura e na modalidade consolidada de plataforma de exportação.
Na verdade, as reformas políticas recentes que ocorreram na China mantiveram a perspectiva de crescimento econômico como componente principal, mas agora com uma preocupação maior em produzir uma sociedade mais equilibrada do ponto de vista social, principalmente em face das previsões de aumento da urbanização e de incremento no mercado consumidor interno. Os modelos matemáticos apontam que o país terá cerca de 1 bilhão de pessoas pertencentes à classe média até o ano de 2030, números que o governo chinês compreende como um fenômeno planejado e integrado a suas políticas públicas.
Entretanto, merece atenção o fato de um país cada vez mais urbano exigir maiores cuidados com os sistemas de proteção social, como o acesso universal à educação, habitação e água potável. Mesmo com a postura econômica agressiva, o sistema político chinês continua fundamentado em uma ditadura do partido comunista, e as mudanças econômicas não se refletem em maior participação da população nas decisões cruciais para o país.
Desde o final da década de 1980 e, principalmente, com a realização da reunião Rio-92, os conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento socioambiental começaram a dominar debates científicos e políticos. No caso da China, o forte crescimento econômico do país não foi acompanhado de transformações em sua base energética e na formulação de suas políticas setoriais, o que pode ser comprovado se observarmos de que maneira o governo chinês conduz suas obras estruturais, como no caso da Usina Hidrelétrica de Três Gargantas, no rio Yang-tsé, que deixou mais de 1 milhão de pessoas desabrigadas e uma enorme perda de biodiversidade.
Três Gargantas – a maior hidrelétrica do mundo, mas deixou milhares de pessoas desabrigadas, além de ter gerado uma grande perda de biodiversidade
A fonte de energia mais utilizada no país é o carvão mineral, que é um combustível fóssil não renovável e altamente poluente. Esse combustível responde por cerca de 70% da geração de energia elétrica chinesa. De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), a China possui 16 cidades posicionadas no ranking das 20 cidades mais poluídas do planeta, um dado alarmante e representativo da falta de comprometimento socioambiental do Estado chinês. Um exemplo pífio dessa realidade foi a redução da atividade industrial e paralização de obras do setor de construção civil na região de Pequim pouco antes dos Jogos Olímpicos de 2008, a fim de proporcionar condições mínimas para os atletas realizarem provas como maratona, ciclismo e triatlo.
O empreendedorismo engajado na sustentabilidade significa alcançar o crescimento econômico de maneira não predatória, racionalizando o uso dos recursos naturais e, ao mesmo tempo, criando um ambiente de sustentabilidade social ao gerar empregos em diferentes cadeias produtivas de forma direta ou indireta a partir da criatividade e do investimento social em áreas como saneamento básico e educação. Tudo isso se torna muito pouco provável em um país com o poder tão centralizado, que mina o conceito de criatividade empreendedora ao negar à população sua liberdade de expressão.
Dentro do processo de inserção econômica da China no mercado globalizado, ganhou destaque um tipo de empreendedorismo em que o Estado chinês cria empresas estatais que se envolvem com parceiras multinacionais a fim de criar novos projetos e produtos com base tecnológica, gerando ganhos para a qualificação da mão de obra do país e conhecimento científico, o que só pode ser alcançado através de um vasto programa de melhoria do sistema educacional, em diferentes níveis.
Ainda que de maneira implícita, pode-se concluir que, para atingir esse objetivo, as empresas chinesas precisarão atender a diferentes padrões e exigências ambientais desses e outros novos mercados, absorvendo tais preceitos e aplicando-os em diferentes setores de sua economia, criando uma atmosfera mais favorável ao desenvolvimento socioambiental.
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¹ Créditos da imagem: Hung Chung Chih e Shutterstock
Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
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