terça-feira, 14 de outubro de 2014

Bioma da Caatinga


Caatinga

As tradicionais imagens da caatinga e do semiárido nordestino, com solos secos e rachados e plantas de pequeno porte, muitas vezes deixam de revelar a extrema complexidade e diversidade do bioma. Suas paisagens refletem um clima de forte insolação, temperaturas elevadas na maior parte do ano, solos pedregosos, chuvas escassas e irregulares, com secas periódicas. Parte dos rios é intermitente e sazonal; as exceções são os caudalosos Parnaíba e São Francisco.


Como salienta o professor Aziz AbSaber, cerca de 85% do espaço total do Nordeste seco se estende por depressões interplanálticas, situadas entre antigos maciços cristalinos e chapadas eventuais, sob a forma de incontáveis colinas sertanejas. Essas colinas são sulcadas por rios e riachos intermitentes, em climas quentes e relativamente secos. Mas a diversidade de solos e a presença de serras e brejos denotam também a presença de áreas mais úmidas. O inverno seco dura de cinco a oito meses, com maior precipitação no verão, mas irregulares no tempo e no espaço.


Na região, massas de ar descendentes, mais secas e orientadas para a superfície, impedem a ascensão de ar indispensável à formação de nuvens e ocorrência de chuvas. Completa esse quadro natural a cobertura com vegetação arbustivo-arbórea e, mais raramente, arbórea. De origem tupi-guarani, caatinga significa mata branca. São pelo menos 12 tipos de coberturas, desde matas secas (caatinga arbórea) até caatingas abertas, capoeiras e extensões de arbustos baixos. As folhas miúdas, as cascas grossas e as hastes espinhentas são adaptadas à evapotranspiração intensa, tendo algumas plantas sistemas para armazenamento de água, como o mandacaru, xique-xique, barriguda e umbuzeiro. São pelo menos 930 espécies de plantas, sendo 380 endêmicas. Na região existem pelo menos 510 espécies de aves, das quais 470 se reproduzem localmente - dependem da vegetação para sobreviver. Há também ali grande variedade de cobras e lagartos.


Estudo recente lançado pelo Ministério do Meio Ambiente indica que o total de caatinga devastada saltou de 43,3% em 2002 para 45,3% em 2008 - crescimento de área equivalente à do município de São Paulo. Entre as principais causas apontadas para esse avanço estão o uso da cobertura para lenha e carvão e o avanço de frentes agrícolas e de pecuária. Como se sabe, há novas frentes de expansão da moderna cultura de grãos pelo oeste da Bahia e sul do Maranhão e Piauí. Entre os municípios que registraram maior perda de caatinga estão Acopiara e Tauá (CE), Bom Jesus da Lapa e Campo Formoso (BA) e Serra Talhada (PE). O avanço preocupa porque apenas 7% da cobertura está protegida por unidades de conservação federais ou estaduais, com os habituais problemas de controle e fiscalização. Desse total, apenas 1% é de unidades de proteção integral.


Com isso, podem estar em risco espécies de flora e fauna e a rica "farmácia a céu aberto" representada por diferentes plantas de uso medicinal, como a catingueira, o jerico e o angico.
Diversos estudos e programas indicam, pelo menos, 80 áreas prioritárias para conservação da caatinga e definição de políticas articuladas entre União, estados e municípios de combate à devastação do bioma. Uma unidade de conservação a ser destacada é o Parque Nacional da Serra da Capivara, declarado patrimônio cultural pela Unesco em 1991, em função de seus mais de 500 sítios de pinturas rupestres, e abrigo de espécies ameaçadas como jaguatirica e tamanduá-bandeira.
Mesmo diante das dificuldades do homem sertanejo - quase 1 milhão de famílias vivem em situação de penúria, num quadro de grande concentração fundiária - o Nordeste seco é o semi-árido mais povoado do planeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário