terça-feira, 21 de outubro de 2014

Elementos dos mapas II



Elementos que constituem um mapa II
Os mapas congestionam nossas retinas. Os meios para fazê-los atualmente estão acessíveis a muitas pessoas, e não somente aos profissionais cartógrafos. Todas as redações de jornal, revista e televisão têm meios para produzir mapas automáticos e inéditos, com rapidez. A incrível disponibilidade de dados estatísticos é outro fator que favorece a produção constante de mapas. Assim, não há jornal, revista ou televisão que não apresente, aos olhos de seus leitores e telespectadores, diariamente, mapas, mapas e mapas. Tudo isso sem contar a internet! Exemplo: previsão do tempo, localização de um lugar onde aconteceu algum acidente, localização em shopping, etc.
Essa inundação de mapas tem como protagonistas um número muito grande de pessoas que entendem do programa de computador que faz o mapa, mas não conhecem a linguagem gráfica e a Cartografia.
Por exemplo: se quisermos mostrar a distribuição geográfica de um fenômeno, digamos, o índice de alfabetização por município no Estado de São Paulo, por meio de tonalidades do preto para o branco (passando por vários tons de cinza) escolheríamos, para mostrar os maiores índices de alfabetização, o tom mais escuro e os menores índices, o mais claro.
Quando vemos um mapa que usa tonalidades da mesma cor, sem pensar, nossa percepção indica que a tonalidade mais escura (mais pigmentação) representa a maior intensidade do fenômeno, e a tonalidade mais clara, a quase ausência. Caso isso seja invertido, ou então, escolhidos tons arbitrários, haverá uma confusão na nossa percepção, pois o que teremos diante dos nossos olhos será uma falsa imagem: um erro cartográfico. A freqüência de erros cartográficos na mídia, nos atlas e nos materiais didáticos, de modo geral, é grande. São vários os erros e um dos mais comuns se refere à ordenação da diversidade de um único fenômeno. É freqüente a representação da ordenação, com distinção de cores, o que é um sério erro cartográfico.
Procurando sentir a comunicação imediata de um mapa das grandes aglomerações urbanas do mundoTodo bom mapa deve responder a duas questões:
1.       Em tal lugar, quanto há?
Por exemplo: um mapa que mostra a relação de proporcionalidade (qual o maior, qual o menor), a pergunta a ser respondida visualmente deve ser: quanto?; deve mostrar também a ordenação (do mais denso ao menos denso) e responder: em que posição da ordem, em que ordem?
2.       Em que ordem está?
Por exemplo: deve referir-se à relação entre os dados representados no mapa; quer dizer, eles apresentam uma distribuição geográfica? mostram onde estão as maiores intensidades do fenômeno representado? onde são mais densas?
            Se tomarmos um mapa que mostra a distribuição da população, poderíamos usar duas formas gráficas bem simples: o tamanho dos círculos representando o tamanho absoluto da população das cidades (círculos maiores = populações maiores, círculos menores = populações menores), respondendo a pergunta 1; as cores no interior dos círculos representando as densidades(cor mais escura = maior densidade, cor mais clara = menor densidade).
            Esses dois critérios, além da simplicidade, têm uma propriedade de síntese, que faz com que digam muito sobre as aglomerações urbanas que descrevem.
Desconstruindo o mapa das grandes aglomerações urbanas do mundo: a escala, a projeção e a métrica
Os mapas podem ser feitos de diversas maneiras. São espaços muitíssimos menores que o espaço das realidades representadas, reduzidos várias vezes. Esse fator de redução é a escala cartográfica. Exemplo: há mapas comuns que representam a extensão do planeta que foram reduzidos 23 milhões de vezes em relação à extensão verdadeira do planeta, tal como na fotografia de uma pessoa de 1,80 m que, no papel, tem apenas alguns centímetros. O mapa-múndi é produto de uma redução grande (afinal a Terra é 23 milhões de vezes maior que o mapa). Para representar uma cidade internamente poderia reduzir bem menos, digamos, apenas 10 mil vezes. Se for preciso representar um grande espaço, será necessário reduzi-lo muitas vezes para que ele caiba num mapa. Nesse caso, será difícil representar detalhes. O inverso é verdadeiro também: pequenos espaços exigem uma menor redução para constituir um mapa, permitindo a representação de detalhes. Logo, um elemento essencial de qualquer mapa é a escala cartográfica (o fator de redução de um mapa). Uma diversidade delas é necessária para as muitas dimensões dos fenômenos geográficos. Definir a escala de um mapa é sempre uma escolha.
O planeta Terra é esférico, sua superfície é curva e não é possível desenhá-lo no papel plano do mapa sem algum tipo de deformação, que é na verdade a adaptação necessária para a transferência do que é curvo, para a folha de papel, que é plana. Mas é possível transcrevê-lo com vários acertos. Escolher alguns acertos é também escolher alguns erros.
A projeção cartográfica é a técnica que permite a transcrição de uma superfície curva para uma plana. Ela não pode respeitar ao mesmo tempo as distâncias entre os objetos, os ângulos (a forma dos objetos) e as superfícies (a extensão territorial dos objetos) ao mesmo tempo. As diferentes projeções (e são mais de 200) deformam e favorecem de maneira seletiva um ou outro de seus elementos. Em vista da diferença existente entre os mapas-múndi, podemos projetar imagens equivocadas.
A Projeção de Mercator é a representação mais antiga e utilizada de todas. É muito útil na navegação, pois respeita as distâncias e os ângulos, embora não faça o mesmo com o tamanho das superfícies. As projeções têm características modificadas ao longo do mapa. A proje­ção de Mercator consegue manter as su­perfícies somente nas regiões próximas ao Equador. Ela também é freqüentemente apontada como uma projeção que expressa um poderio do Norte sobre o Sul, visto que superdimensiona as terras emersas do Nor­te.
Por sua vez, a projeção de Buckminster Fuller (assim como a de Bertin) é indicada para representar os fluxos comerciais no mundo contemporâneo. A projeção Dymaxion de Buckminster Fuller foi concebida para permitir uma melhor compreensão das questões humanas e colocar em evidência as relações entre os diferentes po­vos. É uma tentativa que busca encontrar a for­ma cartográfica mais adequada para a época das telecomunicações em escala mundial, dos transportes intercontinentais, das interdepen­dências econômicas. Essa projeção reduz as distorções habituais, fornece uma visão mais precisa das dimensões relativas dos territórios, dos oceanos e dos mares, e uma imagem menos "hierarquizada" do planeta.
Na verdade, as projeções são escolhas que devem ser ajustadas ao que se quer represen­tar. Não há verdades, nem certo e errado, apenas escolhas interessantes quanto ao seu potencial de comunicaçãoPortanto, a projeção é um dos elementos chaves do mapa.
Identificamos dois elementos essenciais para cons­tituição do mapa: 1) a es­cala e 2) as projeções. Os dois elementos são obtidos e construídos tendo por referência as medidas do terreno (distâncias, extensão, ângulos, reduções proporcionais) a ser representado. Se verificarmos, a Projeção de Mercator representa desproporcionalmente a Gro­enlândia em relação à América do Sul, considerando as medidas da extensão desses dois territórios: a América do Sul tem uma extensão territorial de 17.819.000 km2e a Groenlândia, 2.175.597 km2.
Para representar, pode-se usar outra maneira de medir e não só a extensão territorial e assim, identificamos outro elemento essencial do mapa: a métrica, que é uma maneira de medir no mapaOs mapas que introduzem outras maneiras de medir (outras métricas) que não somente as dimensões do terreno chamam-se Anamorfose, que quer dizer: aquilo que está fora da forma ou que não tem for­ma. Trata-se de um procedimento que produz alterações propositais nos contornos comuns dos mapas, produzindo, por exemplo, modi­ficações nos tamanhos dos territórios sem al­teração dos seus contornos (exemplo: desenhar o Japão bem maior do que é por conta da sua população absoluta).
      A percepção visual é imediata: tamanhos maiores são os países com maior população e tamanhos menores, com menor população; assim, concluímos que há uma distribuição desigual da população dos países. A maior população está concentrada na China, Índia, Estados Unidos e Europa e a menor, Canadá e Austrália – tomando por base o tamanho do país, do território.
Desconstruindo o mapa das grandes aglomerações urbanas do mundo: a linguagem
O conjunto de símbo­los gráficos ou variáveis visuais  é a lin­guagem, outro elemento do mapa. Os símbolos fazem parte da "gramática" da linguagem cartográfi­ca, que exemplificam e mostram as possibilidades de cartografar os fenômenos geo­gráficos (aqueles que têm espacialidade) e que permitem distinguir, quan­tificar, qualificar e mostrar ligações (fluxos). As variáveis que mostram quantidades (representações quantitativas) são círculos, quadrados proporcionais, que correspondem a variável tamanho. Mapas que querem representar fenômenos distintos usam, na maioria esmagadora dos casos, cores diferentes ou granulações, tal como aparece na “gramática” da linguagem cartográfica. Ordenar fenômenos é encontrar formas de mostrar as diferenças internas de um único fenômeno. Por exemplo, diversas altitudes do relevo, ou diversas médias de temperatura. Quando se trata de um único fenômeno, sua representação deve se dar no interior de uma única cor, utilizando suas tonalidades, e com isso pode-se mostrar a diversidade interna de um fenômeno. O mapa é uma representação estática, sem movimento, um retrato de um momento. No entanto, podemos representar por meio de símbolos adequados (e o mais utilizado é a seta) direções de fluxos, por exemplo, do comércio mundial, dando a idéia de movimento. Não é difícil perceber quando estamos diante de uma cartografia dinâmica, que procura representar movimentos.
O grande desafio da Cartografia não está mais em localizar, com precisão, os fenômenos geográficos. O verdadeiro desafio da Cartografia é conseguir representar as re­lações complexas travadas entre as sociedades e os objetos no espaço geográfico. Um dos maiores estudiosos e elaboradores nesse cam­po, Jacques Bertin, afirmava: o grande desafio a ser enfrentado pela Cartografia é o desen­volvimento da linguagem.

2. O sensoriamento remoto: a democratização das informações
Nunca a superfície do nosso planeta esteve tanto à disposição do olho humano como atualmente. Nunca tantos puderam conhecer essa área em detalhes, como agora. Na internet, um programa específico (Google Earth) dá acesso ao cidadão comum a praticamente toda superfície terrestre, com um nível de detalhe que permite até identificar nossas ruas e casas. Isso é extraordinário e novo. Se tal informação está disponível ao cidadão comum, obviamente outras, mais sofisticadas, estão sob o controle de agentes sociais poderosos, como os Estados (órgãos especia­lizados), institutos de pesquisas e grandes em­presas.
Que meios permitem essa ampliação do olho humano sobre seu planeta? O sensoriamento remoto, que é qualquer tecnologia que consegue apreender o espaço a distância. A tecnologia que mais revolucionou recente­mente essa apreensão do espaço a distância foi a imagem de satéliteSão elas que abastecem o Google Earth e também permitem, por exemplo, acompanhar os fenômenos atmosféricos, monitorar desmatamentos e queimadas, identificar inimigos em situação de guerra e alvejá-los com mísseis.
As imagens de satélite podem nos dar a localização de fenô­menos geográficos e ser base importante para produzir mapas. Elas são instrumentos de controle territo­rial, logo, se associam às formas de poder e a diversos interesses. Alguns países e algumas empresas detêm o essencial das tecnologias, e isso é um problema. Um exemplo já bastan­te conhecido é o constante monitoramento remoto sofrido pelo Brasil em relação à di­versidade biológica da floresta amazônica, assim como as informações privilegiadas que os EUA conseguem em relação ao território iraquiano, o que favorece o controle daquele país sobre as áreas de petróleo. Mas, como foi ressaltado anteriormente, esse conhecimento está deixando de ser mo­nopólio apenas dos poderosos. Discutir como funciona o sensoriamento remoto no univer­so escolar é um passo na democratização de suas informações, um elemento de desenvol­vimento de competências e um ingrediente de constituição de cidadania. As imagens de satélite, como o próprio nome diz, são obtidas por meio de satélites dotados de sensores óticos enviados à órbita terrestre pelo ser humano. Países e empresas podem ser seus donos. Por isso, as imagens de satélites são conhecidas como pro­dutos do sensoriamento remoto orbital.
O sensoriamento remoto: como se produz uma imagem de satélite
            O texto “Sensoriamento Remoto”  aprofunda o assunto.
Será que, como os mapas, as imagens de sa­télite têm qualidades e finalidades diferentes? Um exemplo é a diferença entre os satélites geoestacionários e os satélites em movimento com rela­ção à Terra.
Avançar na compreensão do sensoriamento remoto, como recurso didático-pedagógico, permite desmistificar a idéia de que esta tecno­logia de ponta encontra-se distante da escola e da cidadania, principalmente no momento em que seu uso está voltado para o estudo de questões importantes da atualidade, envolvendo problemas socioeconômicos e ambientais de grande relevância em suas diferentes esca­las. Parte importante dos conhecimen­tos da Geografia é obtida por meio das diver­sas formas de sensoriamento remoto.
Descobrindo imagens de satélite no cotidiano
Como o sensoriamento resulta na produção e no uso de imagens remotas, seria interessante explorar fontes de consultas disponíveis na rede mundial de computadores, na internet. Na página do Instituto Nacional de Pesquisas Es­paciais – INPE (http://www.inpe.br/) há um tutorial, um pequeno programa que ensina e mostra os fundamen­tos do Sensoriamento Remoto Orbital, das imagens de satélite. Outras hipóteses interessantíssimas podem ser exploradas: o site da Embrapa (http:// www.cnpm.embrapa.br/) e do Google Earth (earth.google.com/intl/pt/) também possuem tutorais para dar acesso ao conhecimento e à manipulação de imagens de satélite. Quer dizer, não só a informação está ficando mais dispo­nível, mas também as técnicas para aprender­mos a manipulá-las e criarmos nossos próprios produtos com imagens de satélite.



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