terça-feira, 5 de maio de 2015

Variabilidade Climática e Qualidade da Água no Reservatório Guarapiranga II

O clima local

A análise rítmica do tempo entende o clima como um fenômeno dinâmico e explica o clima em razão das flutuações dos elementos climáticos que atuam de maneira interdependente (Monteiro, 1973). Os elementos climáticos, como temperatura atmosférica, precipitação de chuva, umidade e pressão atmosférica, variam de acordo com a localidade observada. A morfologia geográfica e a configuração do espaço produzido pelo ser humano interferem nos estados do tempo e, portanto, no clima. Estudo encabeçado por Pereira Filho et al. (2007) observou que as temperaturas mínimas absolutas da Região Metropolitana de São Paulo têm aumentado. E que, ao longo das últimas sete décadas, houve mudanças significativas no ciclo anual de variáveis, tais como aumento da temperatura e precipitação, e diminuição da umidade relativa. Destacam-se, entre as variáveis, as mudanças nas precipitações médias diárias, principalmente no período chuvoso. Outro estudo, de Marengo et al. (2013), demonstra que tanto a quantidade de precipitação anual de chuvas como também os eventos de chuvas intensas aumentaram. Pereira Filho et al. (2007) sugerem que as alterações dizem respeito ao aumento horizontal e vertical da malha urbana e indicam um aumento de temperatura de 1,0 °C acima da estimativa global, o que denota um aumento local e mais significativo de temperatura, que contribuiu para as mudanças climáticas observadas na RMSP, algumas associadas a transientes globais e outras, a mudanças locais de origem antrópica.
As mudanças climáticas decorrentes da ação antropogênica no ambiente urbano interferem no ciclo hidrológico, no aumento da temperatura (ilhas de calor que se sobrepõem à cidade), aceleram a evapotranspiração e a retirada de água do lençol freático e formam nuvens pesadas que, segundo Primavesi et al. (2007), podem ter dois destinos. O primeiro: precipitação torrencial, mais intensa do que permite a capacidade de infiltração do solo, fazendo a água escoar rapidamente para a bacia hidrográfica. O segundo destino: formação de pequenas gotas, em decorrência de micropartículas de carvão presentes na fumaça; essas gotas podem ser levadas para fora da área de mata ciliar dos cursos d'água presentes no município. Assim, a deterioração dos cursos d'água está vinculada ao acelerado crescimento populacional e ao alto grau de urbanização das últimas décadas (Mayer et al., 1998).
A influência das mudanças climáticas na saúde é ainda mais forte em ambientes urbanos. Patz e Christenson (2010) atestam que as doenças mais sensíveis à influência das mudanças climáticas são aquelas transmitidas pela água e pelos alimentos, assim como as doenças de transmissão vetorial. Segundo os autores, as doenças transmitidas pela água são particularmente sensíveis às mudanças no ciclo hidrológico.
Patz (2010, p.277) afirma que "la lluvia adicional puede aumentar el hábitat larval y el tamaño de la población de vectores al crear un nuevo hábitat.[...] La falta de lluvia puede hacer con que se críen más mosquitos en contenedores al forzar el almacenamiento de agua".
Assim, a variação na intensidade do regime de chuvas pode representar riscos à saúde da população. Nos períodos pós-chuvas torrenciais, as patologias de veiculação hídrica têm maior disseminação. As águas que chegam às bacias urbanas, depois de chuvas torrenciais, vêm intensamente contaminadas com lixo e sujeiras presentes nas ruas da cidade. Além disso, misturam-se frequentemente com o sistema de saneamento e coleta de esgoto, devido ao grande volume de água que passa pelas vias em um espaço curto de tempo, fazendo que o sistema de drenagem seja insuficiente.
Os agentes biológicos mais frequentemente encontrados em águas contaminadas são bactérias patogênicas, responsáveis pelos casos de enterites, diarreias e doenças epidêmicas. Na presente pesquisa, estudou-se a relação entre o clima e as florações de cianobactérias.
Primavesi et al. (2007) afirmam que os impactos ambientais e interferências no ciclo hidrológico urbano acarretam atraso no período das chuvas; maior número e maior intensidade de veranicos no período das chuvas (chuvas frontais menos duradouras, em consequência da menor permanência das frentes frias); chuvas tropicais (convectivas) mais intensas, causadas por massas de ar mais quentes e mais saturadas de água, o que resulta em maior escoamento de água, em mais enchentes e em maior poder erosivo das chuvas, embora o volume de chuvas anuais possa ser o mesmo; redução da reposição de água ao lençol freático; períodos de seca maiores e, intensificação dos processos de assoreamento, de contaminação dos corpos de água e de eutrofização das águas, maior risco de aparecimento de fito plânctons, tais como cianobactérias, que podem liberar toxinas por ocasião do tratamento dessas águas.

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