Entrevista com Sueli Furlan - Educação Ambiental
Sueli Furlan As questões ambientais ganharam uma nova roupagem nesta década. Em 1997, quando foram publicados, os PCNs levaram os professores a pensar nos conteúdos de meio ambiente de modo a construir uma postura cidadã e formar um sujeito mais comprometido com seu espaço, com a sua vida, com seus limites dentro do planeta. Isso era bastante inovador para a época.
Anos depois, o debate sobre meio ambiente ganhou outro volume, tanto do ponto de vista temático - passando a incluir questões como o aquecimento global em escala planetária - quanto em escala nacional. Após os PCNs, foram criadas leis voltadas para a temática ambiental, como a que estabelece o Sistema Nacional de Áreas Protegidas e a lei do Estatuto da Cidade - um documento importante que organiza o ambiente urbano. Dentro das novas legislações, encontramos princípios focados no controle ambiental e fica fácil perceber que a sociedade passou lidar com as questões ambientais de uma maneira diferente.
Na sua avaliação, atualmente o tema meio ambiente está mais presente nas escolas?
Sueli Furlan A questão ambiental surgiu na sociedade, e não na escola, e foi escolarizada depois. Contudo, não podemos afirmar que o tema esteja suficientemente enraizado na escola, temos ainda muita coisa pra fazer.
Uma das limitações que existe refere-se ao ponto de vista metodológico. As pessoas sabem muito sobre o tema meio ambiente, mas não sabem atuar para resolver os problemas. Há uma grande diferença entre falar sobre o tema e fazer Educação Ambiental. Em geral, a mídia e os professores já falam bastante sobre questões ambientais, mas precisam avançar em direção à Educação Ambiental, que envolve mudança de valores e atitudes dos adultos e ensino desses novos valores e atitudes para as crianças na escola.
Como é possível fazer isso em sala de aula?
Sueli Furlan Para avançar em direção à Educação Ambiental é importante definir o âmbito de atuação dos professores e saber com clareza até onde, de fato, a escola pode agir. Tomando como exemplo a questão do lixo - tema muito presente nas escolas - é comum ver projetos que acabam frustrando os alunos por mostrarem a eles uma realidade em que não conseguem interferir. Eles começam com a compreensão de um processo e o entendimento do que é o resíduo. Em seguida, estudam como fazer a coleta, como separar o lixo, como ele é constituído, o que é um aterro sanitário, o que é um sistema integrado de tratamento. Quando vão colocar em prática o que aprenderam, notam que a cidade não tem sistema reciclagem porque o poder público não tem uma política para a área. Ou seja, a escola ensina de um jeito, o aluno vê que lá fora a realidade é outra e acaba achando que o que ele aprendeu não serve.
Por isso, é preciso saber a limitação que se tem e deixá-la clara aos alunos. Eles podem compreender a dimensão do problema. Podem, sim, ser pessoas menos perdulárias com o desperdício de recursos. Mas precisam também, num caso como este que eu exemplifiquei, aprender como o cidadão deve agir, caso não haja políticas públicas efetivas voltadas para a resolução de questões ambientais. Mobilizar um grupo para pressionar a prefeitura, participar de movimentos, ONGs, são alguns exemplos de outros níveis de ação, que não vão necessariamente tratar o lixo em si, mas levam a compreender melhor a complexidade real do problema e como agir de maneira mais articulada.
Qual é o papel do gestor escolar nesses projetos?
Sueli Furlan Hoje, seria muito interessante que os gestores escolares assumissem o compromisso de transformar a escola em exemplo de sustentabilidade, com uso responsável de recursos, no consumo de energias, na manutenção dos equipamentos, na utilização dos materiais, com a qualidade de vida e do ambiente na escola. O que se deseja idealmente é que as pessoas possam perceber-se no mundo e possam lidar com as questões ambientais a ponto de querer transformar o seu próprio modo de viver e seu modo de interagir com os recursos existentes. E a escola deveria ser um lugar privilegiado para que essa percepção acontecesse.
Que iniciativas simples poderiam tornar a escola mais responsável do ponto de vista ambiental?
Sueli Furlan A escola muitas vezes trabalha com questões macro para discutir grandes problemas ambientais, e não consegue ir além do que a mídia já faz: informar sobre o problema. É necessário, então, pensar em pequenas atitudes concretas. Um exemplo está na quantidade de mobiliário quebrado que a gente vê nas escolas e ninguém toma uma providência. Aquilo é recurso natural que está lá. Quase toda escola tem um lugar onde são guardados esses móveis. As pessoas até fazem projetos e identificam isso como um problema, mas não percebem que resolvê-lo é muito importante. A mesma coisa acontece com o desperdício de água e energia, que podem ser projetos de solução de um probleminha muito micro, muito pontual, mas na temática do meio ambiente, o pontual é sempre parte de uma totalidade. Cada um com o seu trabalho pontual é capaz de promover uma grande mudança.
Aquecimento global, tsunamis, créditos de carbono. Essas expressões, que hoje estão presentes no cotidiano das pessoas, eram desconhecidas do público no final da década de 1990, época em que os Parâmetros Curriculares Nacionais foram publicados. Segundo a professora da Faculdade de Geografia da Universidade de São Paulo, Sueli Furlan, o volume do PCNs que aborda o tema transversal meio ambiente já trazia os embriões dessas questões ambientais que, no século 21, ganharam escalas mundiais. Nesta entrevista, ela fala dos novos temas que devem ser abordados em sala de aula e da importância dos gestores assumirem o desafio de transformar suas instituições em escolas sustentáveis.
Que novas questões surgiram sobre o tema transversal meio ambiente desde a publicação dos PCNs?
Nenhum comentário:
Postar um comentário