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quarta-feira, 3 de junho de 2015
A Guerra da Água
A luz vermelha se acendeu para o abastecimento de água na região Sudeste do País. São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais passam pela maior crise hídrica de sua história. A capital paulistana, em especial, está prestes a viver um cenário de escassez sem precedentes. O sistema Cantareira, um dos maiores produtores de água no mundo, responsável por abastecer a região da Grande São Paulo, opera com cerca de 5% de sua capacidade. Segundo especialistas, o nível das águas segue diminuindo 0,1% por dia. Com esses índices, a previsão é de que entre março e maio deste ano o sistema seque completamente, o que afetaria dramaticamente a rotina de mais de nove milhões de pessoas.
A crise hídrica, no entanto, vem dando sinais de sua gravidade desde janeiro do ano passado, mas o governo de São Paulo não adotou medidas eficazes para melhorar a gestão do recurso no Estado. “Não há solução no curto prazo”, diz Antônio Carlos Zuffo, professor do departamento de recursos hídricos da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade de Campinas (Unicamp). “No início da crise, todos acreditaram que o volume de chuvas aumentaria e deixaram de pensar em alternativas para restringir o uso.”
No pacote de medidas emergenciais, o diretor da Sabesp, Paulo Massato, afirmou que, se a situação piorar, um rodízio de cinco dias por semana sem água poderá ser adotado na maior cidade do País. O anúncio contrariou as declarações do governador do Estado, Geraldo Alckmin, de que não faltaria água em São Paulo. “O racionamento deveria ter sido feito gradualmente para atingir uma maior economia”, diz Zuffo.
A falta de visão estratégica do governo estadual também se deu na elaboração das medidas paliativas, como o bônus criado para quem economizasse 20% ou mais de água em relação à média de consumo do ano anterior. “Um em cada quatro consumidores reduziu, mas um em cada quatro aumentou o consumo”, afirma Marussia Whately, coordenadora do projeto Água São Paulo, do Instituto Socioambiental. “Na verdade, a sobretaxa deveria ter sido adotada desde o início da campanha.” Somente em janeiro deste ano, a Sabesp foi autorizada pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo a aplicar multa por excesso de consumo.
Diante do agravamento da escassez, o governador paulista afirmou também que pretende usar a água da represa Billings para reduzir os impactos da seca. O problema, porém, é que ela está contaminada com grandes quantidades de lixo. Além disso, não há uma estação de tratamento com capacidade para tratar uma quantidade de água equivalente à vinda do Cantareira. “A água da Billings teria de ser mandada para a estação de tratamento do Alto do Tietê e seria fornecida no Estado não potável.” O recurso bruto poderia ser usado para lavar roupa, carros e calçadas. Para o consumo e para a higiene, a população teria de recorrer aos caminhões-pipa. “Em grandes metrópoles, seria uma dinâmica impraticável em função do trânsito e da frota insuficiente”, diz Zuffo.No Brasil, as perdas durante a distribuição agravam ainda mais o quadro de escassez e prejudicam 46 milhões de pessoas. Enquanto a média mundial de desperdício é de 15%, o País registrou em 2013 um índice de 37% em decorrência de registros defeituosos, vazamentos em hidrantes e ligações irregulares. No Rio de Janeiro, os reservatórios de Santa Branca e do Paraibuna que abastecem a bacia do rio Paraíba do Sul já atingiram o volume morto, quando a quantidade de água está abaixo da linha de captação do sistema. A previsão é de que os outros dois reservatórios no sistema do Rio, Jaguari e Funil, também diminuam nos próximos dias. Por enquanto, o governador Luiz Fernando Pezão minimizou a crise e descartou o racionamento. A realidade é a mesma em Minas Gerais, onde o governador Fernando Pimentel estuda medidas para adiar o rodízio. No Espírito Santo, a situação já afeta a indústria e a agricultura.
Além do índice de chuvas abaixo da média, outros problemas influenciam a gestão dos recursos hídricos no País. Um relatório da Comissão Pastoral da Terra mostrou que, em 2013, o Brasil bateu recordes de conflitos por água. Foram 104 confrontos em decorrência de estiagens, da implantação de hidrelétricas, ação de mineradoras e de corrupção. “Não há preservação dos mananciais nem investimentos em mecanismos de preservação, o que resulta em um modelo de gestão falido”, diz Rubens Siqueira, coordenador do projeto de transposição de águas da Bacia do São Francisco. Uma das alternativas no longo prazo é a melhora no tratamento de água. “A falta de proteção nas áreas de captação gera a poluição e, com isso, as etapas do tratamento ficam mais caras”, afirma Jussara Cabral Cruz, presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos.
A Falácia da Guerra pela Água
Internacionalmente, não existem registros de conflitos por disputa de recursos hídricos, apenas algumas tensões políticas ou diplomáticas em alguns casos específicos. A maior parte das 261 bacias internacionais existentes no mundo é gerida por meio de acordos que asseguram o compartilhamento de suas águas.
É o caso do Tratado de Cooperação da Bacia Amazônica, o Tratado da Bacia do Prata, a Comissão Internacional para Proteção do Rio Danúbio (Europa), a Iniciativa da Bacia do Nilo (África), o Protocolo de Damasco, assegurando o compartilhamento das águas do Rio Eufrates (Oriente Médio), Tratado de Paz entre Israel e Jordânia acerca do compartilhamento do Rio Jordão, entre outros. O mundo já entende que uma bacia hidrográfica deve ser gerida enquanto sistema integrado, independentemente das fronteiras políticas que possa abranger.
Observe que, mesmo em áreas onde o recurso hídrico é mais escasso, nunca houve a chamada guerra pela água, nem há perspectiva de que haja, já que as soluções técnicas e de planejamento estão se tornando mais eficientes e mais baratas, sobretudo se comparadas aos custos de uma guerra. Paula Duarte Lopes, em Água no Século XXI: Desafios e oportunidades, afirma: “No que diz respeito à água, a última guerra – no sentido clássico do termo – registrada teve lugar entre duas cidades-Estado na Suméria antiga (Umma e Lagash), em 2500 a.C. Não existe qualquer registro histórico de outra guerra entre entidades políticas autônomas ou explicada por motivos hídricos”. O especialista turco em hidropolítica Dursun Yildiz converge com essa opinião ao afirmar que, “quando olhamos para os trabalhos acadêmicos, podemos ver claramente que a tese da realização da guerra da água parece quase impossível. Esse conceito é mais publicado em revistas e jornais populares”. Afirmar que a água vai acabar, como já vimos, é uma insensatez malthusiana, e atribuir conflitos a uma eventual escassez atende apenas a interesses midiáticos, políticos e ideológicos, pois não se assenta em base científica, mas a uma perspectiva fatalista que talvez tenha maior valor
de mercado. No Brasil, porém, a recente disputa entre os governos de São Paulo e do Rio de Janeiro reveste-se de desconhecimento técnico e de interesses políticos. Desconhecimento de que uma bacia deve ser gerida como um conjunto sistêmico, cujo potencial hídrico pode ser medido em relação à demanda e, dessa forma, ter as águas compartilhadas pelos estados. Essa disputa é também revestida de interesses políticos, pois, alimentar o discurso de que “estão roubando nossa água e não vamos permitir que isso aconteça”, tem uma forte conotação emocional que pode facilmente ser revertida em benefícios eleitorais. Não há o menor problema em compartilhar as águas da Bacia do Rio Paraíba do Sul, como já se faz há milênios em outras bacias, e como se está fazendo com o São Francisco.
*Professor livre-docente do departamento de geografia da USP- Luis Antônio Bittar Venturi
Atualidades III- Desmatamento na Amazônia
Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a Amazônia influencia na geração de chuvas e na manutenção do clima ameno e sem grandes eventos extremos da América do Sul. É o que aponta o relatório "O futuro climático da Amazônia", divulgado em 2014, no qual os cientistas mostram a relação entre a Amazônia e a regulação do clima no planeta.Direto ao ponto: Ficha-resumoA atmosfera é carregada de gotículas de água em estado gasoso, mais leves que o ar. Esses são provenientes da evaporação da água dos oceanos e quando se juntam formam as nuvens. Quando as nuvens ficam “carregadas”, as gotículas caem em forma de chuva.Os cientistas brasileiros do INPE citam a chamada “teoria da bomba biótica de umidade”, para nos ajudar a entender a função climática que a Amazônia teria.A teoria proposta pelos físicos russos Anastassia Makarieva e Victor Gorshkov diz que o fenômeno de chuvas longe da costa é possível graças à existência de florestas. A transpiração das plantas seria responsável por criar um fluxo de vapor de água que é lançado à atmosfera, capaz de reduzir pressão e arrastar o ar úmido, no que seria uma espécie de “bomba de elevar vapor”.Makarieva e Gorshkov afirmam que o desmatamento de uma floresta pode reduzir a incidência de chuvas em até 95%, transformando o local num deserto.O que os pesquisadores do INPE concluíram é que a Amazônia tem uma grande capacidade de puxar a umidade do oceano para o continente. Em lugares sem cobertura florestal, o ar que entra no continente acaba secando e resulta em desertos em terrenos distantes do litoral.A floresta amazônica atuaria então como uma bomba d'água que “puxa” a umidade dos oceanos. Na Amazônia, as árvores extraem grande volume de água do solo e do oceano e o lança na atmosfera através da transpiração.Segundo o relatório, cada árvore amazônica de grande porte pode evaporar mais de mil litros de água por dia. A estimativa é que floresta amazônica transpire 20 bilhões de toneladas de água por dia (20 trilhões de litros).A grande umidade evaporada pelas árvores gera “rios voadores” na atmosfera, que carregam vapor e geram correntes aéreas (ventos) que irrigam regiões distantes. O fluxo de água é conduzido por territórios a leste dos Andes e para áreas continente adentro, no sentido oeste e sudeste.A Amazônia também seria responsável por evitar eventos climáticos extremos em regiões de florestas e arredores. Isso porque a copa das árvores provoca um efeito de “frenagem’ dos ventos que vem do oceano, o que equilibra a distribuição e o efeito dissipador da energia dos ventos. Assim, sua cobertura vegetal seria uma proteção contra furacões e tornados. Por esse motivo, o desmatamento da Amazônia ameaça não apenas quem vive na região hoje coberta pela floresta, mas também quem vive além dela.O desmatamento altera os padrões de pressão e pode causar o declínio dos ventos carregados de umidade que vem do oceano para o continente. Sem árvores, a chuva na região pode cessar por completo.A Amazônia não é apenas a maior floresta tropical do mundo. Ela influencia na geração de chuvas e na manutenção do clima ameno e sem grandes eventos extremos da América do Sul. Um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostra que existe uma a relação direta entre a Amazônia e a regulação do clima no planeta e, consequentemente, com a frequência das chuvas em outras regiões. O que os pesquisadores do INPE concluíram é que a Amazônia tem uma grande capacidade de puxar a umidade do oceano para o continente. Em lugares sem cobertura florestal, o ar que entra no continente acaba secando e resulta em desertos em terrenos distantes do litoral. A floresta amazônica atuaria então como uma bomba d´água que “puxa” a umidade dos oceanos. Com o avanço do desmatamento, a floresta tem os padrões de pressão alterados, o que pode causar o declínio dos ventos carregados de umidade que vem do oceano para o continente. Sem árvores, a chuva na região pode cessar por completo.Carolina Cunha
DIRETO AO PONTO
Atualidades II- Brasil é o maior consumidor mundial
Essas substâncias não estão presentes apenas em alimentos in natura como frutas, legumes e verduras, mas também em produtos alimentícios industrializados, que têm como ingredientes o trigo, o milho e a soja, por exemplo. Elas ainda podem estar presentes nas carnes e leites de animais que se alimentam de ração com traços de agrotóxicos e até no leite materno.
Em abril de 2015, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgou um relatório sobre o uso de agrotóxicos nas lavouras do país e seus impactos sob o meio ambiente e à saúde. Segundo o instituto, o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos. O país é um dos maiores produtores agrícolas do mundo e utiliza agrotóxicos em larga escala. Para o agricultor, os agrotóxicos são recursos para combater as pragas, controlar o aparecimento de doenças e aumentar a produção. Em dez anos, a venda de pesticidas no mercado agrícola brasileiro aumentou de R$ 6 bilhões para R$ 26 bilhões. Atualmente, o país ultrapassou a marca de 1 milhão de toneladas, o que equivale a um consumo médio de 5,2 kg de agrotóxico ao ano por pessoa. Além de danos ambientais, a equipe do Inca alerta sobre os riscos de doenças como o câncer. Segundo o relatório, o que faz um alimento saudável é sua composição. Os agrotóxicos na alimentação podem alterar o funcionamento normal das células do corpo humano, causando mutações e maior probabilidade do desenvolvimento de doenças no futuro. No Brasil, cerca de 450 substâncias são autorizadas para uso na agricultura. O Inca alerta ainda sobre o uso de muitos princípios ativos que já foram banidos em outros países. Dos 50 produtos mais utilizados na agricultura brasileira, 22 são proibidos na União Europeia. Em 2014, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fez um levantamento com amostras de alimentos em todo o país. No estudo, 25% apresentavam resíduos de agrotóxicos acima do permitido. O uso indiscriminado e abusivo desses produtos e a falta de fiscalização em relação a níveis seguros de substâncias aumenta o risco para a saúde dos brasileiros. Para o Inca, antes de liberar a venda de defensivos agrícolas, o Brasil precisa de pesquisas sobre os potenciais efeitos e riscos à saúde humana decorrentes da exposição aos químicos, particularmente sua relação com determinados tipos de câncer. A relação entre o consumo de agrotóxicos e o desenvolvimento de câncer e outras doenças já é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma pesquisa publicada na revista científica “The Lancet”, em março deste ano, pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), classifica cinco agrotóxicos como prováveis agentes cancerígenos: tetraclorvinfós, parationa, malationa, diazinona e o glifosato. Esses agentes são liberados no Brasil, mas apenas o glifosato possui registro de produto. Em abril de 2015, a Anvisa anunciou que vai revisar a liberação do uso do produto no país. Em 2012, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrascp) divulgou um relatório com estudos que comprovam que agrotóxicos fazem mal à saúde e provocam efeitos nocivos com impactos sobre a saúde pública e a segurança alimentar e nutricional da população. Segundo o relatório, as intoxicações agudas por agrotóxicos afetam principalmente os trabalhadores rurais que entram em contato com doses altas desses químicos via pele ou pelos pulmões. Eles podem apresentar problemas como irritação da pele e olhos, coceira, cólicas, vômitos, diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, convulsões, desregulação endócrina e até a morte. Já as intoxicações crônicas podem afetar toda a população que consome os alimentos com resíduos de agrotóxicos. Os efeitos adversos decorrentes da exposição crônica aos agrotóxicos podem levar vários anos para aparecer, dificultando a correlação com o agente. Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos de agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer.Um fator que colaborou para colocar o Brasil no topo do ranking de consumo foi a liberação do uso de sementes transgênicas (geneticamente modificadas) no país. O cultivo dessas sementes exige o uso de grande quantidade de agrotóxicos. Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de transgênicos, atrás apenas dos Estados Unidos. São mais de 42 milhões de hectares de áreas plantadas no país com esse tipo de semente, principalmente na produção de soja e milho. Os agrotóxicos também contaminam o meio ambiente. A pulverização dos químicos acontece em sua maior parte por avião, contaminando o ar da região e áreas próximas, como cidades vizinhas que podem receber o químico levado pelo vento. Isso afeta animais como abelhas e insetos, que são importantes para o equilíbrio do ecossistema. No solo, os químicos podem influenciar na falta de compostos orgânicos e microorganismos e podem contaminar a água de córregos, rios, lençóis freáticos ou aquíferos. Alimentos orgânicos são aqueles que não usam fertilizantes sintéticos, agrotóxicos ou pesticidas em seu método de cultivo. Os solos são enriquecidos com adubos naturais tornando esse tipo de alimento mais saudável e nutritivo. Apesar dos benefícios, o alimento orgânico é mais caro no Brasil, pois a produção é de baixa escala e a maior parte é proveniente da agricultura familiar, o que impacta no custo de distribuição e comercialização. O uso de agrotóxicos se intensificou no Brasil na década de 1970, quando o governo buscou fomentar a produção de agrotóxicos para estimular o crescimento do agronegócio e garantir alta eficiência produtiva. Nesta época, o financiamento bancário para compra de sementes era atrelada ao adubo e o agrotóxico. Atualmente, a indústria química de defensivos agrícolas é isenta de impostos. Uma das soluções para reduzir o uso dessas substâncias seria investir em projetos de larga escala de agroecologia, um meio ecologicamente correto e viável de se manejar e cultivar as plantas. Neste tipo de plantio, podem ser usadas técnicas conhecidas por engenheiros agrônomos e que não utilizam químicos, como sistemas de irrigação eficiente, biofertilizantes que agem como inseticidas biológicos, alternância de plantações e rotação de espécies, adubação com restos orgânicos, compostagem, entre outros. Países como a França, o maior produtor agrícola da Europa, já estão desenhando planos para a promoção de um modelo agroecológico, que concilie os níveis de produtividade e o impacto ambiental. Por Carolina Cunha
Atualidades I - Sociedade- Mudanças na Alimentação
A comida sempre teve um papel importante nas sociedades. Além de ser uma atividade fundamental, o ato de comer em grupo, por exemplo, é um dos que define o homem como um ser cultural e participativo em um contexto social. Os alimentos que escolhemos e a forma como consumimos também nos dizem muito sobre identidades, costumes e características sociais e culturais de um grupo.
Não à toa, alguns momentos importantes da história da civilização ocidental estão relacionados à alimentação -- como as grandes navegações --, que aparece também em muitas histórias religiosas, como a multiplicação dos pães e a ceia no cristianismo.
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Mas qual é a nossa relação com a comida hoje? Da pré-história à sociedade pós-moderna, o ato de comer passou por significativas mudanças. A chegada de novas tecnologias para facilitar a fabricação, a produção, o transporte e a conservação de alimentos provocou uma revolução na alimentação, principalmente nos hábitos familiares, como as refeições partilhadas.
Por outro lado, todo esse avanço não foi capaz de acabar com a fome e a subnutrição no mundo. Segundo o órgão da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO), embora tenha ocorrido uma redução, mais de 800 milhões de pessoas, ou uma em cada oito no mundo, ainda passam fome por não receber o alimento ou a quantidade de alimento adequada.
As mudanças na produção e no ato de comer refletem o ritmo agitado imposto pelo estilo de vida moderno, em que as pessoas passam muito tempo no trabalho e no trabalho, enquanto o tempo para as refeições acaba servindo para várias atividades.Para atender a essa realidade, começam a surgir alternativas na indústria de alimentos: congelados, pré-cozidos e o fast-food. Por outro lado, foram essas mudanças que ajudaram a acabar com a escassez de comida, permitindo, entre outros, o surgimento de grandes centros urbanos e a sobrevivência da raça humana.Mas não foi apenas o processo que mudou. O que comemos também. O homem pré-histórico era onívoro, ou seja, comia de tudo. O homem moderno aderiu a uma alimentação que tem como base gorduras animais, carne, carboidratos e açúcar. Esse sistema alimentar tem forte impacto social e ambiental, pois demanda uma produção agrícola voltada para a forragem animal, do qual a soja é um exemplo.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, do IBGE, o brasileiro come pouca quantidade de hortaliças e frutas, ingere mais alimentos gordurosos do que o recomendado, troca cada vez mais refeições completas por lanches rápidos e é sedentário. A pesquisa apontou ainda que pessoas de baixa renda compram alimentos pouco saudáveis, ou seja, além de fatores como saúde, religião, meio ambiente, a questão social ainda é um limitador do consumo de alimentos, principalmente daqueles considerados mais nutritivos, que costumam ser mais caros.
Esse estilo de vida, que não é característico apenas do brasileiro e pode ser observado em boa parte do mundo, fez com que o número de problemas de saúde decorrentes da má alimentação ou do consumo em excesso de produtos industrializados aumentasse, tal como a obesidade e problemas cardíacos.
Mesmo nesse cenário houve um aumento considerável de consumidores que valorizam a comida natural, orgânica, segundo um relatório recente da empresa de pesquisas Nielsen. A pesquisa aponta um aumento de 5% nas vendas de itens considerados saudáveis, como frutas, verduras, chás, iogurtes, água, entre os anos de 2012 e 2014. Considerando apenas a América Latina, esse número chega a 16%.De olho neste mercado, muitas empresas já prometeram retirar corantes e aromatizantes artificiais de diversos produtos, buscando atender as demandas do consumidor. Mas trata-se de um movimento que ainda precisa ganhar força para atingir uma maior parcela de consumidores, que possa ser beneficiada e ter acesso a tais alimentos.
Dentro desse contexto, a preocupação com a procedência da comida passou a fazer parte da rotina desses consumidores que, além de produtos naturais, buscam comprar marcas e fabricantes que não agridem o meio ambiente nem os animais (como as granjas, onde a forma como as galinhas são criadas varia) para a produção de alimentos.
A onda mais recente do mercado de alimentação é a onda de “gourmetização” da comida, onde se vende a ideia de que você estará consumindo um alimento com algum toque mais refinado. Da coxinha, o pastel, o sanduíche ao feijão com arroz, tudo pode ser “gourmet”.
Esse refinamento, no entanto, nem sempre recupera o lado mais humano das refeições. Muitas vezes, a sofisticação acaba apenas reproduzindo essa dinâmica consumista num tom elitista, que mais uma vez direciona um determinado produto a um tipo de classe social ou perfil.
Entre todas essas questões, a que parece precisar de uma resposta mais urgente sobre alimentação é: com a previsão de que em 2020 a população mundial seja de 9 bilhões de pessoas, teremos comida para todo mundo?
As opções não podem ficar reduzidas apenas à produção industrial ou orgânica e local, embora elas certamente venham a oferecer novas soluções. O alto consumo de animais vai tornar o meio tradicional escasso, assim como os efeitos ambientais da agricultura podem custar muito caro à humanidade, seja pela sua relação como aquecimento global ou perda da biodiversidade.
Usar recursos naturais de forma eficiente, aumentar a produção para nutrição humana (isso porque parte da produção vira ração para animais, é usada nos biocombustíveis e pela indústria), consumir de forma responsável e valorizar o alimento estão entre os passos necessários para garantir que ao longo dos próximos anos, a comida chegue a um número maior de pessoas, em vez de terminar desperdiça na lata de lixo.
A comida sempre teve um papel importante nas sociedades. Além de ser uma atividade fundamental, o ato de comer em grupo, por exemplo, é um dos que define o homem como um ser cultural e participativo em um contexto social. Os alimentos que escolhemos e a forma como os consumimos também nos dizem muito sobre identidades, costumes e características sociais e culturais de um grupo.
Com a chegada de novas tecnologias que vieram para facilitar a fabricação, a produção, o transporte e a conservação de alimentos, houve uma revolução na alimentação, principalmente nos hábitos familiares, como as refeições partilhadas e a forma como consumimos alimentos hoje.
As mudanças na produção e no ato de comer refletem o ritmo agitado imposto pelo estilo de vida moderno, em que as pessoas passam muito tempo no trabalho e no transporte, e tem cada vez menos tempo para alimentação e lazer.O que mudou no nosso ato de comer e, pensando num futuro onde a população mundial deve chegar a 9 bilhões de pessoas, como vamos garantir comida para todos?
Carolina Cunha
Índice de Desenvolvimento Humano- IDH
“O propósito básico do desenvolvimento é ampliar as escolhas das pessoas, criando um ambiente capacitante para que elas gozem uma vida longa, saudável e criativa. Por isso, o avanço de uma população não pode ser medido apenas pela sua dimensão econômica, mas também por suas características sociais, culturais e políticas". Partindo deste princípio os economistas Mahbub ul Haq, do Paquistão, e Amartya Sen, indiano ganhador do Premio Nobel de Economia de 1998, criaram, em 1990, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Trata-se de um indicador que oferece um contraponto ao Produto Interno Bruto per capita, indicador que presume haver um elo entre o crescimento econômico nacional e a expansão das opções humanas de um indivíduo. O PIB per capita leva em conta apenas o desenvolvimento econômico de um país.
Para chegar ao IDH, os dois economistas elaboraram uma fórmula que leva em conta três elementos de igual importância:
- renda (o PIB per capita corrigido pelo poder de compra de dólar de cada país)
- longevidade (expectativa de vida ao nascer)
- educação (índice de analfabetismo e taxa de matrícula em todos os níveis de ensino)
Cada um desses elementos é composto de fatores que colaboram com o índice de cada um. Entra na cota da longevidade, por exemplo, a segurança humana, composta, entre outros fatores, das estatísticas sobre crimes, fome e ameaças à segurança provocadas pelo desemprego repentino. Na cota de educação, entram o nível de conhecimento e a eficiência dos recursos disponíveis para a população (leia o texto da página sobre a metodologia do IDH). O resultado desse levantamento - o Relatório do Desenvolvimento Humano (RDH) - é publicado anualmente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).O primeiro RDH foi publicado em 1990, mas o índice foi recalculado para os anos anteriores, a partir de 1975, possibilitando uma visão mais abrangente da evolução de cada nação no desenvolvimento humano desde a década de 70. O IDH é uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Ele não abrange todos os aspectos econômicos do desenvolvimento e serve somente para apontar em que setores um país deve reunir esforços para melhorar o bem-estar e a prosperidade de seus habitantes. Com o passar dos anos, o indicador do desenvolvimento humano acabou se tornando uma referência mundial.Foi nele, por exemplo, que as Nações Unidas se basearam para estabelecer os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. E é nele que governos estaduais e municipais se fiam para montar o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), uma versão do IDH para os 26 Estados e 5.507 municípios do país.Os Objetivos do Milênio é um conjunto de oito metas de desenvolvimento que os 192 países-membros da ONU se comprometeram a cumprir até 2015. Elas são:
- Erradicar a extrema pobreza e a fome
- Atingir o ensino básico universal
- Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
- Reduzir a mortalidade infantil
- Melhorar a saúde materna
- Combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças
- Garantir a sustentabilidade ambiental
- Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento
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