sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A Urbanização africana



O processo de urbanização das sociedades – isto é, o crescimento da área e da população das cidades em relação ao campo – acontece com diferentes particularidades ao longo do tempo e dos distintos lugares. No entanto, algumas ocorrências notam-se semelhantes em todos os casos, fazendo com que se tenha um padrão mais ou menos definido de como certos fenômenos repetem-se nesse contexto. No caso da urbanização da África, ainda em curso, algumas manifestações vêm se repetindo em relação aos processos já acontecidos nos países desenvolvidos e nos emergentes industrializados.
É claro que falar em “urbanização da África” é uma questão, por si só, problemática, pois trata-se de um continente muito grande, com uma elevada quantidade de países que apresentam diferentes contextos. No entanto, em uma ideia mais geral, podemos dizer que apenas no final do século XX e no início do XXI é que o continente africano vem conhecendo, de fato, o seu processo de urbanização de forma mais intensificada, embora tal fenômeno tenha se iniciado timidamente já na década de 1950.
Há estimativas realizadas por agências ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU) de que, até 2030, a população das cidades deverá aumentar 85% nos países da região. Dessa forma, mais da metade da população africana será urbana. Atualmente, apenas um terço dos habitantes do continente o são. Tal crescimento será resultado tanto do rápido crescimento vegetativo das principais cidades quanto dos intensivos processos de êxodo rural e metropolização das sociedades, algo já vivido pelas economias mais avançadas.
Dentre os principais fatores ligados à urbanização dos países do continente africano, destacam-se a industrialização relativa de suas economias, a menor oferta de emprego no campo, a elevada concentração fundiária – ou, no caso de alguns países, a baixa disponibilidade de terras facilmente agricultáveis – e o predomínio de atividades econômicas propriamente urbanas, sobretudo ligadas ao setor terciário (comércio e serviços, a maioria informal). Todos esses elementos podem ser listados como as reais causas da urbanização da África.
Como já frisamos, embora haja particularidades, a urbanização da África repete alguns padrões já vistos em outros lugares. Nos países desenvolvidos da Europa e da América do Norte, a urbanização acelerada – sobretudo no período da Revolução Industrial – causou graves problemas sociais nas cidades, o que só foi, em partes, resolvido com as posteriores reformas urbanas e melhorias nas condições de renda da população. Já nos países emergentes (incluindo o Brasil), ainda se vivem as consequências dessa urbanização acelerada realizada ao longo do século XX, com a formação de favelas, guetos e a constituição da segregação socioespacial.
Área de moradias precárias, em Joanesburgo, África do Sul
Área de moradias precárias, em Joanesburgo, África do Sul
As maiores áreas urbanas da África já apresentam tais problemas. Segundo dados da ONU referentes a 2010, as maiores aglomerações urbanas do continente africano são, respectivamente, os entornos das seguintes cidades: Cairo (Egito), com mais de 11 milhões de pessoas; Lagos (Nigéria), com 10,5 milhões e com perspectivas de assumir o primeiro lugar em breve; Kinshasa (República Democrática do Congo), com 8,7 milhões; e Joanesburgo (África do Sul), com 7,2 milhões de habitantes. Todas essas cidades apresentam, ainda segundo a ONU, mais de 70% de suas populações urbanas concentradas em guetos, favelas e áreas irregulares ou marginalizadas.
A cidade de Lagos, na Nigéria, deverá ser a maior área urbana da África nos próximos anos
A cidade de Lagos, na Nigéria, deverá ser a maior área urbana da África nos próximos anos
Dados divulgados pela revista The Economist consideram a previsão de que, entre 2010 e 2025, as cidades que mais aumentarão suas populações urbanas serão: Dar es Salaam (Tanzânia), Nairóbi (Quênia), Kinshasa (R. D. Congo) e Luanda (Angola). Portanto, as perspectivas de problemas socioespaciais e, até mesmo, de convulsões sociais nessas cidades são muito grandes, a não ser que intervenções humanitárias, governamentais e internacionais atuem no sentido de amenizar os efeitos de uma urbanização acelerada nessas e em outras localidades do continente africano.
Vista aérea de Dar es Salaam, na Tanzânia
Vista aérea de Dar es Salaam, na Tanzânia
Por Me. Rodolfo Alves Pena










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